quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Enquanto atravesso o deserto
tu conheces o infinito,
torço as mãos em segredo
onde nos encontrámos viveremos.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016



                Boas festas a todos!



quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Fumo um cigarro. A vida não é uma espera. Mas eu espero, espero o vazio que antecede a explosão. Tudo menos o corpo é eterno. As rochas resistem ao tempo, o tempo dos Deuses quase findou. Mas tudo é eterno, é preciso descobrir o caminho.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Ema

-Tem um cancro agressivo no coração.
A minha cadela vai morrer e serei eu quem dará a ordem. Morrerá num sono profundo, sem dor.
Hoje contamos histórias enquanto lhe damos todas as goluseimas proibidas. Hoje é o dia da Ema. Amanhã irá para o Outro Mundo onde encontrará o Tejo, o seu companheiro que nos deixou há uns anos.
Hoje não é dia para chorar.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Quis de ti o que não davas quando não era a ti que te queria. Histórias antigas. Uma voz que pensava estar na noite dos dias lentos, um sopro desesperado que precisava. Não me deste os braços para neles me esconder. Mas nem eram esses que procurava.

Respiro aqueles campos verdejantes, sinto o pulsar da terra e nela quero mergulhar. Tão próxima de ti.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Cantas água,
falas em sussurro,
envolves-me em ramos,
respiro por ti.

E por ti espero.



Fala-me
de vozes antigas
que vibram no silêncio,
folhas em movimento,
eterno segredo.

Fala-me de hoje,
fonte ressequida,
longe da vida,
caos em ressurreição.

Fala-me antes
do vento veloz
que me leva a voz,
recorte do que sou,
tudo o que ficou.

Fala-me, fala-me,
voz vizinha que escuto,
presente passado futuro,
dás-me tanto, tudo,
solta o que está obscuro,
esperarei por ti sempre,
nas longas horas,
momentos incertos,
desconhecido destino.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

É tarde, é cedo. Os pássaros ainda dormem e eu estou de vigília. Sei que não posso estar acordada, vai ser um segredo meu.


É cedo, o silêncio impera, tenho a madrugada para mim e vivê-la é um momento. Que sou. Que estou. Essências que não são garantidas. Como nada o é.

É tarde e tento curar-me da ferida que fui outrora. Eu que sonhei tanto!

É cedo para dizer que é tarde. Mas é tarde.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Quietas as madrugadas que me despertam. Há no silêncio a minha voz, as imagens que vejo e revejo, um sopro de vida. Uma pétala tímida. Uma raiz que inventa a terra.

Há o olhar distante de quem tenta deslindar os mistérios.

Dou três passos, avanço. Cautelosamente. Para que o vento não ouça.

Tenho sofreguidão de goles de harmonias.
Esvoaçaram as aves
escutando o frio
que vem entrelaçado
nos raios desmaiados.

É tempo de recolha,
a noite esconde as silhuetas.

É tempo dos poetas acordarem.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Acreditei nos pássaros quando voaram em círculo por cima do pinheiro manso que plantara. Um bom augúrio, uma dávida dos Deuses. O vento soprava de norte, o sol estava no seu apogeu, estávamos no início de mais um ciclo.

Todas as noites acendia uma vela para que me lembrasse dos tempos que viriam. Casaria com o homem que amava e iria viver com ele para terras distantes.

Ninguém esperava a guerra que estalara, talvez  a leitura do voo das aves tenha sido descuidada, os padrões ignorados.

Fiquei com a vida em suspense. Era impossível deslocar-me com tamanha carnifícia, sobreviver era um acto heróico.

A minha vela permanecia acesa. Cada dia com mais intensidade.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Maggie


Eu sei que ela gosta de mim e da Ema, a minha grande amiga pastor alemão. Mesmo quando chega a casa, cabisbaixa e sem palavras. Eu ladro-lhe, não pode andar assim. Por vezes ela fica furiosa e eu limito-me a acompanhá-la um passo atrás.

A Ema sabe sempre o que fazer. Ficar em silêncio quando chega de expressão fechada, lambê-la para se alegrar quando o permite.

Por vezes é tudo uma festa e as três brincamos no quintal como se fôssemos cachorros. Nessa altura ela lembra-se de nos dar banho e escovar. Não gosto de ambos.

A Ema já me explicou que ela tem variações de humor mais acentuadas do que os outros humanos. Ela nunca o diz, tem vergonha.

Eu gosto de acalmá-la, dormir encostada num lado enquanto a Ema faz outro tanto. Colar o meu focinho ao nariz dela e lamber a face que nunca tem lágrimas.

Queria poder dizer-lhe que não se esquecesse que o momento em que acorda é a altura do meu maior sorriso. Sim, os cães sorriem.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Sopras a manhã de mansinho
agitando as rosas do meu quintal.
Da noite, o perfume do silêncio
onde escutámos os nossos verbos.
Hoje acalmas o vento,
a chuva recolhe no céu cinzento,
eu distancio-me em pensamento.
Porque se esconde o tempo
girando em novelos,
rodopiando em segredo?

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Enrolo-me nas palavras de ontem. Tenho como fado conseguir perseguir o caminho das estrelas. Mas a noite vem e perco-me em expressões mil vezes contadas. O mar, esse, desbrava o caminho sabendo que estou ausente.

- Há doçura nas pétalas virgens,

há o inevitável, o desagrado, o tempo acumulado como castanhas à espera de serem assadas. Há. O ritmo, as sombras, cem mil vezes a mesma pergunta.

Deito-me observando a noite. Os bandos de pássaros desapareceram. Eu e as estrelas. E todas as forças que nos desenham.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O sol inunda o meu quintal. Há no brilho a face da deusa antiga. Entrego-me ao calor, tenho sede dos dias onde os caranguejos evitam os pés na água cálida.

Queria que não fosses mais do que um brilho no canto do meu amor. Regressar a casa onde te encontro. Falar-te das ondas invernais que desafiam a terra. Do canto das andorinhas primaveris sobre os telhados de Lisboa.

Queria não ser uma sombra que se arrasta à espera que os ramos das árvores rocem o meu rosto.

Tenho esperado em todas as madrugadas, aquietado gestos inúteis, para que descubra o caminho na floresta que me abraçará.

domingo, 2 de outubro de 2016

Ontem era escuro, tu e eu apenas divagando em espírito. Com asas formei-me, em voos rasantes cresci, em ti aprendi os verbos. Era uma vez uma cascata salpicando verdades escondidas que só nós dois partilhávamos. Os meus segredos ficaram lá onde te encontro. Sei que somos amantes antigos, para além de todos os tempos, árvore e sol, mar infinito. Sei que estás sempre ao meu lado, a pele na pele, rosto com rosto. Ninguém sabe de nós, somente o vento que tudo escuta. Agarro na tua mão para esconder a minha. E nas pedras gravamos a nossa presença.




Quase quase em ti
Num mergulho em águas profundas
Renascer nas tuas palavras
Contigo regresar a casa.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016






O teu rosto apareceu pela noite. Tenho tantos novelos desgarrados que suspiram pela libertação. Fossem as asas firmes, o vento, um caminho. Fosse a rapariga de outrora que comungava com as pedras. Mas o meu corpo traiu-me, as mãos quedaram, o tronco vergou com as violentas rajadas dos dias consumados. Talvez  um dia seja pedra perdida num monte sentido a força da terra, sabendo que nada é imutável.


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

[Dali]




Um dia regressarei aos teus braços onde sou feliz.


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Abro as asas e os anos devoram-se
num infinito movimento.  Reaprendi
as formas e distanciei-me das sombras.
Hoje os meus olhos estão mais límpidos
que outrora quando navegava nos novelos
dourados de construções falsas.
Fecho as asas e sereno.
Agradeço aos Deuses antigos.
Respiro as folhas das árvores,
os padrões voltam a brilhar. 


Fala-me
dos dias ensoleirados,
do tempo bem ensaiado
onde te escondes e vives.
Fala-me de controvérsias
onde o errado está certo,
onde por ti me perco
em dias tão destemidos.
Diz-me que me queres,
fonte segura do meu afeto,
segredo bem secreto.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Cresceste onde o vento te via,
correste prados verdejantes
enquanto alguém te esquecia.
Caminhaste abismos desconcertantes
pensaste que não eram relevantes
e caíste numa madrugada fria.
No fundo, fundo
pouco ou nada existia:
- Temperos parcos, balcões vazios.
Bracejaste e nada conseguiste.
Arrancaram-te desse torpor,
explicaram a tua vida,
Tens em mãos esse terror
de duas grandes medidas.
Entre revoltas e quedas
tentaste erguer
caindo em seguida.
Cantam os pássaros num novo dia,
escutam-se os Deuses antigos,
há sombras escondidas,
reflexos do sol onde há vida.


quarta-feira, 22 de junho de 2016

As mãos não acordam
para o silêncio dos dias
levando consigo pedaços
de pétalas prenhes de histórias.
Corre o rio sem barqueiros,
deslizam as margens pedindo
a sinfonia do retorno.
Corre o corpo sem alcançar
a certeza das rochas.
Corre, corre, corre
enquanto o dia finda.


sábado, 11 de junho de 2016

Ouço o cantar da madrugada
enquanto os pássaros matutinos
fazem-se anunciar.
Há no sabor da noite vozes antigas
que guiam o movimento das mãos.
Há no sorriso paz.


terça-feira, 7 de junho de 2016

"É Janeiro e a lareira está acesa, é Junho e a praia já tem gente; sento-me numa rocha, na areia, em qualquer lugar e sinto o vento. Tenho memórias nas mãos, gritos sufocados, uma dor persistente. Sei-me extremos, barco que navega pelas correntes, perdido no seu rumo, fugindo de ambas as margens por onde passeia a loucura. Quando o caminho clareia. Sei-me nesse outro lado onde ninguém vai, onde não há encontros e persiste o silêncio.

É noite, é dia, o desassossego é acompanhante, criem as malhas perdidas, resgatem o meu som. É silêncio, frases perdidas na inconstante vaga."

Teresa Durães, in "O outro lado do silêncio"

sábado, 28 de maio de 2016

Sentavas-te ao meu lado
escurecendo as sombras das nossas mãos
no silêncio de todas as palavras.
Nada mais para além
da clareira da eternidade.
Gestos lentos; há precisão
na harmonia do movimento concreto
tão antigo quanto os carvalhos.
Sabia-te pela noite fora,
hora dos mistérios insondáveis
não proferidos para não serem perdidos.

Um dia negaram-me esse meu sono
trazido de longas histórias antigas
restando-me erva seca em terra batida.
Das mãos preenchidas
restaram mortalhas alheias,
perdi-me em bosques de pedra,
construí musgo em areia
e deitei-me, esperando, a derradeira.

Mas não desististe,
infiltraste frestas em muros cerrados,
compuseste formas em copas de arvoredo,
foste longe no teu intento,
foste tu, imagem do meu pensamento.

in "Passos sem rasto", Teresa Durães

domingo, 1 de maio de 2016

Recolho as lágrimas do orvalho primaveril.
Há na noite a fragrância da liberdade dos passos,
ecos de voos sob a lua onde as asas eram raios
de verdades na plumagem. Tocam acordes de novos dias,
conquista nas mãos prendida. Vergam os olhos,
há acordes de guitarras portuguesas,
longa história em semente escondida.
Sorrio. Serei eterna.


sexta-feira, 29 de abril de 2016

Deixo cair o tempo que aí vem
no regaço laço de quem bebeu
em tragos o seu fado.
Os dias foram transformados em acasos,
restos de uma longa espera,
chuva em pedaços largos.
Tenho sementes a plantar,
árvores que teimam enraizar,
um jardim a inventar.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Passo a passo vejo as memórias
nas mãos amadurecidas. Foram frutas
outrora doces colhidas numa manhã de orvalho.
Olho-as como quem vê um caminho desbravado
até à suave brisa sob as copas das árvores
 em dias de sol e carícias.
Olho-as e tornam-se jovens, de novo,
há tantos segredos guardados
esperando virem a descoberto
traçando um caminho novo.
Há floresta infindáveis
aguardando o meu gesto.
Guardo as memórias, abro a janela,
ouço o primeiro canto e sei-me completa.


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Parto numa madrugada fria em inquieta melancolia
procurando o sussurrar do vento, encontrando o silêncio.

Dizem que para além das colinas
os pássaros são brilhantes,
as árvores sussurram vozes antigas,
os prados são sorrisos de flores luzidias.

Dizem que há novos dias.

Parto em passo trôpego dos tempos cansados,
quero um sopro, uma palavra,
um cantar de afagos, 
uma mão apertada.


sábado, 2 de abril de 2016

quinta-feira, 31 de março de 2016

Estás, não estás?
Nunca estiveste,
desisti do teu amor  
deixando-me ir com os pássaros
sem conhecer outro passado.
Estás, nãos estás?
Se nunca estiveste.

És, não és?
Não serás realmente.
Medo, culpa, agonia,
não quero que estejas,
sejamos pássaros desencontrados
navegando contra o vento,

não és, não haja alento.



sexta-feira, 25 de março de 2016

sábado, 19 de março de 2016

Adeus



Foram precisas todas as horas
para destrançar o meu cabelo,
quando o teu sorriso deixou de ser vida embrionária
e as palavras, beijos e carícias.
Precisei de partir,
o meu corpo sempre foi vento selvagem
desenhado por mãos nómadas.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Sei que me escondo por entre as folhas,
ramagem que esconde as imagens amargas
dos dias encorpados.

Sento-me na falésia ventosa,
quero apagar o visível,
colorir uma nova paisagem. 


terça-feira, 1 de março de 2016

Os lábios gretados pelo frio,
o frio que adormece a alma,
o caminho solitário no bosque
numa manhã que já vai tardia.
Toque num corpo adormecido,
restolhar sem aviso,
a terra pede a primavera, 
eu perco o sentido.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Perdi a canção do mar numa praia distante
onde os búzios esconderam-se por entre as pedras.
Revolvi a areia perguntando por ti,
queria-te a renascer a meu lado.
Mergulhei nas ondas, precisava erguer-me.
mas por entre os dedos, areia perdida,
relembrando as madrugadas frias
onde nos encontrávamos e amávamo-nos.



sábado, 6 de fevereiro de 2016

À minha filha

Há nos teus olhos uma água límpida
que não se cansa da vida.
Há frutos silvestres
que adoçam os teus movimentos
tornando-te numa sereia tão minha.
Pela noite já não te vejo,
aportas em cais distantes
onde conquistas o caminho.
Não tenho temor,
no cair da escuridão,
quando voltam as incertezas,
serei sempre uma presença.




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

[Miró]



É no silêncio que se houve a voz dos Deuses antigos.
Deito-me num altar de pedra, escondido por entre a serra,
procurando o murmúrio e sonhos escondidos.
Não me sei louca, sei o que sinto,
as imagens que percorro no saber perdido
arrebatam com tudo que até então tenha vivido.
As árvores falam? Linguagem tão distante
cujo saber foi alienado, recortado, distorcido
em nome do poder, da civilização,
de algo retorcido. Onde cai a poesia,
a sensibilidade, o espraiar dos dias?
Restam-me poucos versos,
repetem-se os gestos, o corpo comprime-se.
Rasgo as mãos em inquietude, quero-me firme,
afasto-me da multidão, deito-me na erva.
Ela fala-me, sim, não vou negar quem eu sou,
fecho os olhos, estou. Sei-me feliz.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Contam-me histórias antigas
como se o ribeiro recuasse
à fonte do conhecimento primordial.
Não há tempo, não há advento,
requer-se o curso normal
esquecido em contratempos.
Passam nuvens baixas,
ergue-se o vento,
estão esquecidas as rosas
na jarra de cerâmica.
Quem não as alimentou?
Ergue-se o protesto,
perdeste o caminho reto
nas malhas da conquista.
Falas em solidão,
não antevejo uma solução,
sopra o vento Norte,
cai neve na serra erguida
paro em consternação.


sábado, 2 de janeiro de 2016

Erguem-se bolhas de água transbordando o tanque
forrado de musgo viscoso molhando as folhas caídas
em terreno seco.
As vozes foram proferidas em dia invernoso
desvendando saberes tão antigos
quanto a natureza encerra.
Descansa o guerreiro num tronco de árvore
que tem mais de mil histórias para contar.