domingo, 29 de novembro de 2015

Passam os dedos de fininho
no caule de folhas bravias.
Haveria de ser sempre assim.

Pousam gaivotas,
há um mar que se revolta,
voa areia arrastada por rajadas.
Há um inverno que se avizinha.

Pousam prosas,
escreve-se na terra fria,
arrefecem as mãos,
continua-se, em teimosia.

Solta-se a música
liberta-se a paixão.
Há-de vir o dia.


sábado, 28 de novembro de 2015

Correm as ondas pela praia
enquanto o vento carrega fortemente
as imagens das águas:
- Náufragos de barcaças,
incautos nas travessias
caem marinheiros
cem mil vezes em vazio.
Gritos de desespero vindos da areia,
desespero pelo fim de vida,
sem que compreendam que a natureza
não pertence a ninguém. 


sexta-feira, 27 de novembro de 2015


Tanto tempo de favo,
tanta sementeira a colher,
tanto espaço para ser preenchido,
tanto silêncio indefinido.

Troco os Deuses do meu caminho,
quero compreensão, entendimento,
mostrem-me o caminho,
tanta sede de alimento.


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Tarde que finda na sua calma
alheia a quem ainda teme
a noite do sono profundo.
Queria amar as estrelas,
ser seguidora da lua, encontro nu
na natureza que não finda.
Sigo-te, não sigo,
temo o teu juízo.
mas se as marés
envolvem a nossa fé.
porque recearei tanto?
Estás, não estás,
noite que chega sem aconchegos.
Quero paz.


domingo, 22 de novembro de 2015

Antes de nasceres já conhecia as travessias
do riacho da minha infância,
davas-me a mão, dizia,
nunca me largarias.
Tive os meus saltos de pedra em pedra
ousando o meu medo em cada tentativa
mas sabia-te lá, guardiã dos meus segredos,
confiante que nas encruzilhadas ajudarias.
Falaste-me em feno, dei-te erva em liberdade,
gostaste do que apanhaste.
Não acreditaste quando te disse
que a noite tem histórias insolúveis
onde preencho algumas
todas em transe de loucura
uivando à Lua como se fosse una.
Desacreditaste-me, era tua,
eu que nunca fui de ninguém
e rompi os entrançados feitos de barro
que me uniam ao teu abraço.
Nunca to disse, não era necessário,
quebrei em mim todos os laços,
não os queria ao acaso,
folhas queimadas em ramos verdejantes
explorando sempre mais adiante.
Hoje sou pertence de um prado
onde viajo, onde me encontro
onde me tenho ao acaso,
casca rasa de tanto defraudada.

- Fala-me das rosas que podavas.
Fala-me da natureza que prendeste
aos canteiros da tua beira
onde és senhor e obreiro.
Fala-me da música onde te desaproveitaste,
dos traços mal desenhados
que querias que acontecessem.
Esqueceste a hora onde anoiteceste

e perdeste-te.


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Sentes o corpo prisioneiro
nas raízes dos dias já plantados.
Tens mãos de água para construíres cascatas
entre as pedras antigas que ao teu lado adormeceram.
Mas mentiram-te,
não havia rio nem tão pouco um poço
onde estivessem escondidas as sombras destruidoras.
Antes deram-te pedaços de fio e chamaram-lhe túnica,
disseram-te que não eras única,
os caminhos batidos são os que não são esquecidos.
Calcorreaste-los sem saber o sentido,
abandonaste o teu destino
mas a melodia não se perdeu, antes entendeu,
juntou-se em cordões e procurou,
vasculhou aldeias, fez fogueiras
nas noites de breu.
E uma nota encontrou-te e tocou
a eterna música dos separados.



sábado, 14 de novembro de 2015

Entre o silêncio dos dedos
nasce outro tão grande
que carrega memórias de seres
anteriores a nós.
Sabem-no as cotovias,
escondem-no árvores antigas,
dizem-nos os antigos
àqueles que ainda querem escutar.
Palavras prenhas de antiguidades,
preciosidades quase escondidas.
Renascê-los, torná-los companhia,
pinto-lhes uma tela onde eternizam. 


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Tens o teu futuro nas mãos,
diziam-te enquanto a tua vida lambiam,
tocavam-te na fonte e te benziam,
esfregavam as costas e sorriam.
Tens sóis, cores que desconheces,
voos rasantes e outros feitos.
Mas vieram as trepadeiras,
os muro ficaram sobrecarregados,
as janelas, anseios de liberdade.
Tomaste nas mãos as pedras soltas
que em tua volta caíram sem saber
onde pousava o leito do rio.
Não existe, disseram-te por fim,
quando a roupa do corpo não passava
de memórias tão antigas quanto mãos de mãe
a acariciá-las novas.
Eram de rosas, sem espinhos nem agruras
feitas de novelos frescos vendidos como seguros.
Eram ferozes, rompiam a terra amanhada,
seca agora de tão usada.
Pego em adubo fresco ao toque,
inspiro o odor a natureza no seu forte,
não sei onde aporte
mas levo pedaços de mim.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Voz segura de quem tem a distância
dos enredos que acabam por acontecer,
mãos de veludo, corpo manso,
imagens do presente de clareiras floridas.
És vida, és gente,
corpo diferente de uma vida iniciada,
sopro de voz que requer caminhada.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Deitada a um canto
enquanto a longa manhã
espraia nas ondas do mar.
Desistes de todas as paisagens
desenhadas numa memória tão antiga
quanto essa dura melancolia,
esmagando as ameijoas na areia.
Não foste de mão erguida,
antes punho e teimosia,
rompendo as auroras incautas,
cantando o anoitecer em histórias.
Quiseste carvalhos, tiveste freixos
sem saber tão pouco
ouvir um instrumento.
Sobraram-te mãos tão vazias,
mesmo com essa magia que sabes existir
e estendes-te tão sozinha.








quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Sentavas-te na beira do lago,
pés desertores nos juncos
enquanto as pedras formavam caminhos.
Não tinhas pressa,
ainda não a tinhas inventado,
antes escorrias areia dominando as leis
feitas pelos Homens adultos.
As mãos aveludadas pela inexistência
do tempo que não te era pedido,
grotesco desenho de uma realidade
imaginária qualquer.
Mais tarde alongarás os dedos,
pedirás estes e outros segredos,
resgatarás volúpias e enredos,
perderás o tempo do tempo.
mas as árvores continuarão no seu enlevo.