Hoje é dia de Portugal, não temos chances de uma vida melhor, não temos chances de um emprego melhor ou uma segurança social melhor. Mas podemos ser cordiais como sempre fomos, há milénios, podemos ser o povo que somos sem misturar-se com outros, podemos ser o povo que distribui, que recebe com um sorriso. Por favor, Portugal, não mudes mais!
Hoje é dia de Portugal, é o meu dia? Porque não quero racismo, sexismo, violência doméstica, xenofobia, bulling no trabalho como sofri, nem tão pouco julgarem a sexualidade de cada um.
Dizem-me, hoje é dia de Portugal. É o meu dia como portuguesa ou apenas de um pedaço de terra com fronteiras? Porque se for o meu dia como portuguesa quero muito, quero que salvem este país das barbaridades como o lítio, quero bosques e não eucaliptais, quero lobos a circularem e terem de comer, os fogos matam tudo e nenhuma chama quero ver. Sim, este é o meu dia de Portugal, tanto poderia dizer, apenas isto agora.
LEONOR
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Luís de Camões
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...
Vinicius de Moraes
Sim, enquanto sussurro-te,
enquanto encosto os meus lábios suavemente no teu pescoço
ouço-os a conspurcar
todos os nossos gestos,
- Beijavam-se desenfreadas
aquelas cabras com o cio. Putas!
Toco-te com gentileza,
tenho medo que desapareças
no meio de tanto ódio,
tenho medo do medo que tens.
Dizem, sois livres,
tendes o vosso arco-íris,
a vossa bandeira,
o casamento.
Não amor, dá-me a mão,
não chores,
não,
não passearemos de mão dada pela rua
nem apregoarás a nossa união.
Não teremos filhos, mas caminharemos
nas vielas secretas de todas as cidades
onde te poderei beijar, respirar e estar.
ouço-os a conspurcar
todos os nossos gestos,
- Beijavam-se desenfreadas
aquelas cabras com o cio. Putas!
Toco-te com gentileza,
tenho medo que desapareças
no meio de tanto ódio,
tenho medo do medo que tens.
Dizem, sois livres,
tendes o vosso arco-íris,
a vossa bandeira,
o casamento.
Não amor, dá-me a mão,
não chores,
não,
não passearemos de mão dada pela rua
nem apregoarás a nossa união.
Não teremos filhos, mas caminharemos
nas vielas secretas de todas as cidades
onde te poderei beijar, respirar e estar.
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.
Nelson Mandela
"Vi chuva a cair e as árvores ficaram viçosas, vi água a escorrer e os rios engrossaram. Vi vida e a vida que escolhi. Podia ter sido o dia de ontem não fosse a chuva lembrar-me que a natureza tanto oferece.
Hoje vi uma esperança de amanhã. O que quero para além das minhas ervas, para além das minhas árvores, para além dos pássaros, da vida?
Agacho-me e apanho ervas, os fogos não tardarão e tenho de ter tudo limpo, necessito de arrancar flores belas e por elas choro. Mas poderão ser a morte de tanto e tenho de sacrificar uns pelos outros (...)"
Hoje vi uma esperança de amanhã. O que quero para além das minhas ervas, para além das minhas árvores, para além dos pássaros, da vida?
Agacho-me e apanho ervas, os fogos não tardarão e tenho de ter tudo limpo, necessito de arrancar flores belas e por elas choro. Mas poderão ser a morte de tanto e tenho de sacrificar uns pelos outros (...)"
Abraço-te intensamente. A noite está no seu término, em breve serás apenas uma recordação.
Deito-me espreitando o teto. Talvez já tenha vivido muitas vidas diferentes e chegou a hora de vestir uma pele. Talvez continue desapegada.
Sei que te esperarei na próxima noite quando o mundo adormecer suavemente. Então, poderemos viver umas horas na confidência das estrelas, no segredo dos animais noturnos escondidos sob o luar, ténue luz guardadora das confidências dos amantes. Tenho tanto para te dizer e tão pouco tempo para partilhar. Queria-te comigo nos raios solares onde poderíamos correr descalços sobre a terra sentido o passado para além da História. Talvez nos encontrássemos num tempo anterior a todos os tempos, antes de todas as coisas, no tempo das espadas forjadas pelos Deuses, 7 espadas acima das colinas, 7 espadas acima dos vales. Agarraríamos as mãos numa dança louca, eu que não gosto de dançar, dançaríamos a dança estonteante das flores cantantes, dos sobreiros e castanheiros. E descansaríamos no cair da noite quando as corujas brancas se preparam para a caçada e lançam os seus gritos de predadores. Seríamos felizes.
Sei que te esperarei na próxima noite quando o mundo adormecer suavemente. Então, poderemos viver umas horas na confidência das estrelas, no segredo dos animais noturnos escondidos sob o luar, ténue luz guardadora das confidências dos amantes. Tenho tanto para te dizer e tão pouco tempo para partilhar. Queria-te comigo nos raios solares onde poderíamos correr descalços sobre a terra sentido o passado para além da História. Talvez nos encontrássemos num tempo anterior a todos os tempos, antes de todas as coisas, no tempo das espadas forjadas pelos Deuses, 7 espadas acima das colinas, 7 espadas acima dos vales. Agarraríamos as mãos numa dança louca, eu que não gosto de dançar, dançaríamos a dança estonteante das flores cantantes, dos sobreiros e castanheiros. E descansaríamos no cair da noite quando as corujas brancas se preparam para a caçada e lançam os seus gritos de predadores. Seríamos felizes.
Teresa Durães in "7 espadas acima"
Dizes-me que prossiga
não duvide de mim própria.
Há nas tuas palavras
a confiança desaparecida.
Tanto que quero a agarrar,
ensaio desejos,
procuro no vazio as palavras certas
para que a traga de volta
não duvide de mim própria.
Há nas tuas palavras
a confiança desaparecida.
Tanto que quero a agarrar,
ensaio desejos,
procuro no vazio as palavras certas
para que a traga de volta
Tentarei o voo cumprindo
o planar sobre esse passado
que envolve o futuro.
o planar sobre esse passado
que envolve o futuro.
Teresa Durães, in "A fadiga das ond
"Acordei sobressaltada sem saber o que estava a acontecer, era noite cerrada, a fogueira ardia alto. Telgio estava à porta do abrigo de tronco na mão a arder com Perdida ao lado a ladrar, à sua volta olhos amarelos no escuro, uivos e rosnadelas, lobos, uma alcateia.
Levantei-me assustada e fui até ao pé dele, a visão era aterradora, só via bocarras e dentes, dentes capazes de esmigalhar ossos só com uma dentada. Aquele que devia ser o líder era o maior de todos, o seu pelo era formidável, a sua cabeça enorme era uma mescla de castanho e preto apesar de ao redor da boca ter cor branco-sujo, o seu corpo era castanho com manchas pretas, longas pernas castanhas escuras, as orelhas triangulares relativamente pequenas, mas sabia que ouviam melhor do que os cães. Os olhos oblíquos, amarelados, ameaçadores.
Telgio tentava que se afastassem com o fogo, por vezes recuavam, por vezes os lobos avançavam, sempre querendo chegar perto de nós para sermos as vítimas nas suas bocas. Perdida ladrava, ladrava, querendo defendermos, mas ao pé deles não passava de um pequeno ser."
Levantei-me assustada e fui até ao pé dele, a visão era aterradora, só via bocarras e dentes, dentes capazes de esmigalhar ossos só com uma dentada. Aquele que devia ser o líder era o maior de todos, o seu pelo era formidável, a sua cabeça enorme era uma mescla de castanho e preto apesar de ao redor da boca ter cor branco-sujo, o seu corpo era castanho com manchas pretas, longas pernas castanhas escuras, as orelhas triangulares relativamente pequenas, mas sabia que ouviam melhor do que os cães. Os olhos oblíquos, amarelados, ameaçadores.
Telgio tentava que se afastassem com o fogo, por vezes recuavam, por vezes os lobos avançavam, sempre querendo chegar perto de nós para sermos as vítimas nas suas bocas. Perdida ladrava, ladrava, querendo defendermos, mas ao pé deles não passava de um pequeno ser."
Teresa Durães, "O centro do guardião"
Um post notável a propósito do dia de Portugal.
ResponderEliminarGostei muito dos textos, em prosa e em verso. Parabéns pelo talento.
Teresa, continuação de boa semana.
Beijo.
Junto a minha voz à tua, minha Amiga Teresa.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.