sábado, 31 de outubro de 2015

Quero desejar ser vida entre os teus dedos,
saber que te vivo na muralha do silêncio,
ondo povoam os nossos contornos
feitos de ramagem verdejante.
Quero procurar e encontrar-te
nas noites aglomeradas de pontos cintilantes
onde fazemos nascer histórias só nossas
contadas num livro imaginado qualquer.
Viver-te em glória e por fim
escrever-te em ardosa.



sábado, 24 de outubro de 2015

Não te pedi que soprasses as nuvens
para o horizonte longínquo da minha sombra.
- Daria tudo por o fazer.
Não misturei o odor dos meus cabelos
nas grinaldas que te queria oferecer.
- Soprei-as mansamente.
Estendo-te as cores de um coral escondido,
quero contigo ser,
um ponto firme no linho.
Rodam os remoinhos dos medos antigos,
secam as pálpebras e faço-me a um qualquer caminho
tentando ter-te e ser sem ti.
Quebram amarras neste alvoroço,
dar-te e nada esperar ter,
poetizar e amar.






quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Calam-me cem mil vezes,
cem mil vezes ergo a voz,
cem mil vezes quebram-me.
Calo-me num rompante,
não serei como antes,
distancio-me dos restantes.
Erguem-se vozes em contesto,
não lhos direi, sei o que quero.






Botas que marcham no meu país,
sussurros por aqui e ali,
contestações e ardis.
Gigantescas as palavras
de todas as vozes que já foram apagadas.
Não sei onde vivo,
quero construção e não desígnio.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Veio do pó das botas do caminho,
não contido e bravio,
palete escura que não vislumbra.
Veio num dia solarengo
escorregadio como água de fonte
alagando quem a defronte
ensopando o conhecido.
Molha a borda do vestido,
escurece de lama os botins
perderam-se os versos de romance
ergueram-se as distâncias dos confins.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Vozes do outro lado do rio,
encontro de amantes em dias festivos,
um curso de água límpida.
Caminho alheio que desço,
folhas estaladiças nas margens,
erva viçosa errante,
carvalhos que compreendem o tempo,
vida num sopro cantante
onde me deleito expectante.



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Manhã submersa de nevoeiro
onde tocam guitarras perdidas.
Adensam-se as formas imaginadas
golpeando o ar em gestos esquecidos.
Sente-se o odor das folhas caídas
em Setembro que finda.
Vão os homens de regresso
ao trilho cem vezes trilhado
esquecendo a cor da terra pisada.