Levantei-me de manhã, ter de ir à cidade é um pesadelo, eu
citadina há cinquenta anos e só pertenço ao campo há menos de um mês. Quando
era miúda e as férias de verão se aproximavam ia sempre um mês para a quinta
dos meus avós. Fazia a mala com quinze dias de antecedência e sonhava todas as
noites que lá estava. Era a liberdade total, as árvore, os animais, o cão que
tomava-o como meu. A minha avó obrigava a dizer uma prece ao anjinho da guarda,
conceito que desconhecia, mas deslizava a lengalenga e os lençóis cheiravam a
sabão lavados no tanque e corados ao sol. No início não havia eletricidade,
essa veio muitos anos depois, as sombras dos candeeiros de petróleo metiam-me
medo, mas enfiava-me debaixo das encobertas, todos sabem que debaixo delas nada
nos acontece.
Acordar e sentir o sol e o campo à minha espera, apanhar
amoras maduras, ajudar a dar de comer às galinhas e coelhos, correr por entre o
milho fingindo que me perdia e arrancar um cacho de uvas da videira era tudo o
que queria.
Quando regressava a Lisboa quase chorava, tinha sonhos
durante muitas noites que continuava a lá estar, sonhos que duravam meses e
acordava angustiada. Mas vinha a escola, os amigos e eu sempre gostei de
estudar. Adiava as saudades e ainda hoje as adio porque os tempos não
regressam.
(há quase um mês que ando a tratar de burrocracia, a minha casa nova está em obras, ando sem tempo para nada, peço desculpa a todos)
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