Chegou ao pé de mim segurando uma muleta, outra pessoa onde
os anos pesam e o isolamento também. Os filhos distantes, certamente não a
abandonaram, mas estão longe. Recordou os seus anos vividos em África até ter
de fugir sem nada, mais uma história que ouvi de tantas. Escorreram
lágrimas, “Não pense nisso, já foi há tanto tempo!”, “Não costumo pensar, mas
quando falo não aguento”. E ouvia, as suas terras, a sua vida, a sua casa que
foi invadida.
- Volte! – Dizia-lhe o sócio – Corremos com os que se
apoderaram das suas coisas!
Mas não voltaram, como era possível? E dizia-me, só víamos
chegar militares, não paravam de vir, o meu marido ignorava e eu dizia-lhe,
anda, vamos deixar algum dinheiro em Portugal.
- Não, os bancos só nos roubam!
E ficaram sem nada como todos os outros, desprevenidos, não
acautelados apesar da senhora ter insistido.
- Trouxemos uma angolana connosco, nem sabíamos do pai dela,
ela era miúda e ficou tão entusiasmada! Demos-lhe outro nome. Gostas de
Filomena? O nome dela era tão difícil de pronunciar!
A Filomena veio e nunca quis regressar, o filho ainda lá foi
há pouco tempo, mas o tempo passa e nada é igual.
- Tínhamos gado, deve ter fugido todo.
E eu pensei, a guerrilha de certo que se apoderou dele, mas
nada disse.
- Destruíram tudo, mas a terra era deles, nós é que a
ocupámos, não deveria ter sido assim.
Não, não deveria, mas os governos fazem tudo ao contrário e
não são só os nossos!
(d)escreves muito bem!
ResponderEliminarabraço