terça-feira, 18 de agosto de 2015

Solto a gárgula da parede
liberto Deuses e Deusas,
danço loucamente no pátio,
espalho palavras ao acaso,
e grito, sei-me livre,
tenho apenas acasos,
onde me sinto, onde ajo
onde sou e contraceno,
tenho personagens no ato,
tenho tetos e abraços,
tenho nada, tenho pedaços.


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Solto as asas como se o vento
fosse a extensão da minha vida,
toco nos anéis de sol que marcam
o caminho dos peregrinos e sei-me
una com a terra que tudo germina.


Cinquenta anos no deserto
enquanto a areia devora o rosto,
mãos receosas, pele rugosa,
corpo cansado de esperas,
olhos desabituados de encontros.
Batam firme, batam em terra,
não divaguem em pedras,
procuro ar, procuro firmeza,
carvalho no firmamento.



domingo, 9 de agosto de 2015

Vieste de longe
procurar quem não sou,
pétala caída num jardim esquecido.
Tomaste-me as mãos
pensando na firmeza de outrora,
frouxas como sei,
onde as estrelas não iluminam,
porque me fizeste isto?
Caí, de onde não sei,
por ti, para ti, nunca por quem fui,
passado que se oculta,
onde se chora?
Onde foi o caminho perdido
de todos os meninos esquecidos,
onde fiquei extasiada de pasmo,
onde deverei estender o meu regaço?








sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Procuro-te na luz difusa,
onde escondes a tua essência,
nos jogos de sombras,
nas palavras discretas,
doce voz de poeta.
Encontro-te em todas as esperas
nos novelos mal preenchidos
onde estabeleço parcos pontos de equilíbrio
querendo sempre mais deste deserto
onde me vou consumindo.
Falas-me de outra era,
nem passado nem vida a dissipar,
caminhada por dar
mais perto do vento,
mais perto de te amar.





quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Queria falar-te de glórias passadas,
de campos de batalha ganhos
terreno conquistado.
Desejava dar-te em afagos
paz instaurada, amor suplantado,
um pouco de luz em dias anavalhados.
Temo ter visto tão pouco
e tão pouco ter trazido
para que te sirva de conforto,
um ponto de encontro,
restauro num mundo louco.
Oferto-te pedaços de erva,
raiz de um tronco,
suavidade no toque da terra,
uma brisa no teu rosto.






Procuraste verde folha,
no prado longínquo do destino,
amealhaste restos de bagas
do arbusto esquecido no trilho.
Sobrou-te uma mão vazia
para estender caminho.






Folhas das árvores, por quem chamais?
Volve-me lágrimas o silêncio com que retornais,
procuro a seara certa onde a semente desafronta
e de uma só voz se levanta enfrentando
a terra seca e dura.




Crescem as manhãs descolorindo as pétalas,
rega-as um intenso sol alheio
desmentindo fendas, calcinando sulcos,
expandindo raios onde não existiam,
sempre sorrindo, sempre sorrindo.
Voam sopros de terras,
agitam-se águas estagnadas
estalam ramos, movimentam-se bandos,
chegam sombras, cobrem-nos como mantos,
vergam girassóis, escondem campos,
estreito os olhos, apelo ao descanso,
espero a noite, ausência de anseios.