sexta-feira, 8 de maio de 2020







Ontem era ontem e decidi que não seria mais hoje. Peguei na enxada, esperei que as minhas costas aguentassem, abri um buraco para plantar um castanheiro. Coloquei as suas raízes no centro e com as mãos cobri-as, mãos na terra, mãos na vida
Não sei se o irei ver crescer, será o meu testemunho para as restantes árvores, será a minha homenagem aos Deuses que me acompanham. Morrem os bosques aos poucos, morre a minha existência com eles, os Genii[1] fogem para longe e não regressarão. Os Deuses já retornaram às suas moradas e não poderei senti-los entre os ramos, entre as ervas. Sento-me no chão, queria tudo como antes, no tempo em que passeava na quinta dos meus avós onde o terror era uma tempestade com os relâmpagos a iluminarem as serras e os trovões a assustarem-me apesar de não conseguir tirar os olhos de tamanha demonstração de força da natureza..
Mas o ontem não se repete e planto um castanheiro na esperança de que um dia haja alguém como eu que adore as árvores, a sua sombra, o tronco rugoso, a vida que emana, e sente-se encostado a ela alheia a quem plantou e amou, mas apenas ouvindo as suas histórias da vida que atravessou."



[1] NA – Divindade Genii - dos locais, montanhas







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1 comentário:

  1. um belíssimo texto.
    e castanheiro será uma árvore frondosa
    e uma cotovia todas as Primaveras entoará seu canto
    nos seus braços protectores

    abraço

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