Não consigo imaginar o que é para ti os dias de hoje, talvez se recordar os tempos idos, mas nada é igual. Tens vinte e dois anos e eu cinquenta, tens uma vida para conquistar e eu dela já a fiz a minha.
Um dia disseram-te, não saias à rua, não namores, não estejas com os teus amigos. Ainda impuseram, não vás ao ginásio onde praticavas para tentar ir para a Faculdade de Desporto. Tudo de um dia para outro, ou talvez não tenha sido assim, mas com a tua idade não há outra forma de se ver a vida.
Choravas ao telefone, “acabaram com a minha!” e eu não tinha palavras para te responder porque sim, acabaram de um momento para o outro o teu desejo de singrar na vida, o que se faz na tua idade.
- Anda, vem para ao pé de mim. – Pedia-te mesmo sabendo que vivo numa terra sem nome num Portugal desconhecido onde não há vírus nem máscaras nem distâncias.
- Anda, aqui podes correr, aqui podes ser o que eras antes.
Mas não quiseste e ficaste na tua casa sozinha. Claro que sabia que não era bem assim, as tuas amigas apareciam e ias ter com elas. Não havia confinamento nessa cidade onde vives porque o teu corpo é demasiado jovem para poder aceitar as exceções tão raras na vida – sim, nunca vivi nada assim.
Sabes que onde moro somente há oliveiras e trabalho na horta e tu não querias, querias a existência antiga como se fosse possível parar o mundo só para que avançasses.
- Mãe, quando isto acaba? Para o mês que vem?
Não respondia, que poderia dizer eu que só semeava favas e de nada disso percebia exceto que os dados como certos não os eram.
- Mãe, como vou para a faculdade assim? Como treino, como estudo?
Continuava muda, eu que tanto te queria dizer, aconchegar-te no meu colo onde não cabes e falar – há de passar.
Há de passar quando? Ninguém sabe e a minha filha de 22 anos precisa dessas respostas urgentes porque é o presente dela, não um futuro estranho ou um passado de tanta aniquilação da natureza que a vão fazer compreender.
- Mãe, os meus músculos estão-se a perder, não consigo estudar, o que faço?
O que fazes? Vai para a rua e corre, faz com que os teus passos marquem a diferença, mas fá-lo, por ti, pela tua geração confusa com o que se passa. Sim, afinal o que se passa? A mãe natureza descobriu que estamos a mais e temos de aniquilar alguns?
- Mãe, é Páscoa, dizem que não posso sair! – Chorava de novo.
- Não te importes, sai à mesma, vai correr, vai fazer exercício, vai fazer com que não enlouqueças nestes diz estranhos . Esteve cá uma amiga minha e sentámos-nos a dois metros de distância.
Nada disso era permitido, mas eu fingia que não ouvia, fingia que tudo o que ela fazia estava correto, mas só repetia.
- Tem cuidado, queres ser atleta, o Covid pode danificar os pulmões.
- Mãe? Mãe? O que faço então? – Continuava a chorar.
Choravas ao telefone, “acabaram com a minha!” e eu não tinha palavras para te responder porque sim, acabaram de um momento para o outro o teu desejo de singrar na vida, o que se faz na tua idade.
- Anda, vem para ao pé de mim. – Pedia-te mesmo sabendo que vivo numa terra sem nome num Portugal desconhecido onde não há vírus nem máscaras nem distâncias.
- Anda, aqui podes correr, aqui podes ser o que eras antes.
Mas não quiseste e ficaste na tua casa sozinha. Claro que sabia que não era bem assim, as tuas amigas apareciam e ias ter com elas. Não havia confinamento nessa cidade onde vives porque o teu corpo é demasiado jovem para poder aceitar as exceções tão raras na vida – sim, nunca vivi nada assim.
Sabes que onde moro somente há oliveiras e trabalho na horta e tu não querias, querias a existência antiga como se fosse possível parar o mundo só para que avançasses.
- Mãe, quando isto acaba? Para o mês que vem?
Não respondia, que poderia dizer eu que só semeava favas e de nada disso percebia exceto que os dados como certos não os eram.
- Mãe, como vou para a faculdade assim? Como treino, como estudo?
Continuava muda, eu que tanto te queria dizer, aconchegar-te no meu colo onde não cabes e falar – há de passar.
Há de passar quando? Ninguém sabe e a minha filha de 22 anos precisa dessas respostas urgentes porque é o presente dela, não um futuro estranho ou um passado de tanta aniquilação da natureza que a vão fazer compreender.
- Mãe, os meus músculos estão-se a perder, não consigo estudar, o que faço?
O que fazes? Vai para a rua e corre, faz com que os teus passos marquem a diferença, mas fá-lo, por ti, pela tua geração confusa com o que se passa. Sim, afinal o que se passa? A mãe natureza descobriu que estamos a mais e temos de aniquilar alguns?
- Mãe, é Páscoa, dizem que não posso sair! – Chorava de novo.
- Não te importes, sai à mesma, vai correr, vai fazer exercício, vai fazer com que não enlouqueças nestes diz estranhos . Esteve cá uma amiga minha e sentámos-nos a dois metros de distância.
Nada disso era permitido, mas eu fingia que não ouvia, fingia que tudo o que ela fazia estava correto, mas só repetia.
- Tem cuidado, queres ser atleta, o Covid pode danificar os pulmões.
- Mãe? Mãe? O que faço então? – Continuava a chorar.
Teresa Durães