quinta-feira, 18 de abril de 2019

"Prólogo

Chovia torrencialmente na noite de 17 de Janeiro de 1937. As ruas no Chiado estavam praticamente desertas, viam-se apenas os últimos convivas à porta do Grémio Literário. 

Um carro preto parou no Largo da Biblioteca Pública, na estrada enlameada. De lá dentro, saíram quatro homens de gabardina até às orelhas para evitar a chuva. 

Em passo apressado dirigiram-se ao número catorze e com os punhos desataram a bater violentamente contra a porta.

- Abram imediatamente em nome da DGS!  - gritaram.

Ouviram-se passos apressados, a luz de um candeeiro a petróleo fez-se ver e um homem alto abriu a porta.

- Sr. António?
- Sim, sou eu.
- O senhor está preso por crime contra a Pátria. Faça o favor de vir connosco.

Uma mulher apareceu por detrás com uma barriga proeminente. Assim que os viu empalideceu.

- O que fez o meu marido?
- Como se fosse necessário explicar - disse um deles em tom de desprezo. - O seu marido é comunista, foi apanhado a assobiar a Internacional. Um traidor e os traidores da nossa nação não têm lugar entre nós."

Nini, Teresa Durães

(um livro a ser escrito)

3 comentários:

  1. Que nunca lhe doam as mãos
    e o pensamento
    Bj

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  2. Promete, Teresa. "Atira-te" de cabeça, que eu fico à espera

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  3. Um tempo negro que não pode ser confundido pelas traições da memória. Daí a necessidade de ser permanentemente avivada a verdade. E, mesmo assim, há por aí marmanjos que não desistem da higienização das mentes em tudo o que é comunicação social.

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