"Abraço-te intensamente. A noite
está no seu término, em breve serás apenas uma recordação.
Deito-me espreitando o teto.
Talvez já tenha vivido muitas vidas diferentes e chegou a hora de vestir uma
pele. Talvez continue desapegada.
Sei que te esperarei na próxima
noite quando o mundo adormecer suavemente. Então, poderemos viver umas horas na
confidência das estrelas, no segredo dos animais noturnos escondidos sob o luar,
ténue luz guardadora das confidências dos amantes. Tenho tanto para te dizer e
tão pouco tempo para partilhar. Queria-te comigo nos raios solares onde
poderíamos correr descalços sobre a terra sentido o passado para além da
História. Talvez nos encontrássemos num tempo anterior a todos os tempos, antes
de todas as coisas, no tempo das espadas forjadas pelos Deuses, 7 espadas acima
das colinas, 7 espadas acima dos vales. Agarraríamos as mãos numa dança louca,
eu que não gosto de dançar, dançaríamos a dança estonteante das flores
cantantes, dos sobreiros e castanheiros. E descansaríamos no cair da noite
quando as corujas brancas se preparam para a caçada e lançam os seus gritos de
predadores. Seríamos felizes."
7 espadas acima, Teresa Durães
texto intimista que prende o leitor da primeira à última palavra
ResponderEliminarabraço
Belíssimo texto que faz pensar na vida e nas peles com que encenamos a peça.
ResponderEliminarA suprema felicidade de a dois (ou mais) porem o mundo a rodopiar em torno de nós. O mundo das coisas simples, a que damos nomes ancestrais: flores, sobreiros, castanheiros, e pedras, e terra, e estrelas, e chuva, e sol. Tudo em torvelinho em torno, em dança. E nós na espiral universal.
Beijo.