sexta-feira, 22 de março de 2019

"Abraço-te intensamente. A noite está no seu término, em breve serás apenas uma recordação.
Deito-me espreitando o teto. Talvez já tenha vivido muitas vidas diferentes e chegou a hora de vestir uma pele. Talvez continue desapegada.

Sei que te esperarei na próxima noite quando o mundo adormecer suavemente. Então, poderemos viver umas horas na confidência das estrelas, no segredo dos animais noturnos escondidos sob o luar, ténue luz guardadora das confidências dos amantes. Tenho tanto para te dizer e tão pouco tempo para partilhar. Queria-te comigo nos raios solares onde poderíamos correr descalços sobre a terra sentido o passado para além da História. Talvez nos encontrássemos num tempo anterior a todos os tempos, antes de todas as coisas, no tempo das espadas forjadas pelos Deuses, 7 espadas acima das colinas, 7 espadas acima dos vales. Agarraríamos as mãos numa dança louca, eu que não gosto de dançar, dançaríamos a dança estonteante das flores cantantes, dos sobreiros e castanheiros. E descansaríamos no cair da noite quando as corujas brancas se preparam para a caçada e lançam os seus gritos de predadores. Seríamos felizes."

7 espadas acima, Teresa Durães

2 comentários:

  1. texto intimista que prende o leitor da primeira à última palavra
    abraço

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  2. Belíssimo texto que faz pensar na vida e nas peles com que encenamos a peça.
    A suprema felicidade de a dois (ou mais) porem o mundo a rodopiar em torno de nós. O mundo das coisas simples, a que damos nomes ancestrais: flores, sobreiros, castanheiros, e pedras, e terra, e estrelas, e chuva, e sol. Tudo em torvelinho em torno, em dança. E nós na espiral universal.
    Beijo.

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