Ouvi toda a gente, ouvi os aflitos, os sãos, ouvi os
conformados. Mas também ouvi os meus, ouvi quem era para ouvir, eu que estou
segura e não posso apoiar quem queria. Eu que estou aqui longe de tudo, longe
da desgraça, longe da pandemia. Ouvi e queria ser, mas hoje não podemos ser,
temos de ser amorfos, tábuas de indiferença, infiltrar-nos pela chuva, usar
luvas, usar máscaras, desconfiar quem atrás de nós está, esperar que os nosso
se curem e esperar que pelo menos a
natureza se regenere. Que aja algo positivo nisto porque não me importo de
morrer sabendo que o planeta vai respirar de novo, vai reviver, vai renascer. E
morrer de faltar de ar deve ser algo horrível e queria que o meu sacrifício não
fosse em vão, mas não acredito na humanidade porque apenas está preocupada com
a economia.
( o meu irmão está infectado e ao fim de 8 dias teve uma chamada de um médico, a minha filha tem 22 anos, preparava-se para a faculdade de Desporto, não entende como o seu futuro foi comprometido, andamos todos ao acaso, os mais jovens sentem-se traídos pela vida, os mais velhos não respeitam as normas, os do meio têm de trabalhar ou cuidar dos seus. E no fim disto tudo ninguém entende uma guerra contra um inimigo invisível. Irritamo-nos, somos humanos, somos gente e dizem, fiquem em casa, ficamos, mas também desesperamos)
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