quinta-feira, 2 de abril de 2020


Ontem vi um horizonte, nele sonhei grifos, sonhei um Tejo que não finda, sonhei todas as cores, sonhei uma imensidão. Há na incerteza a angústia, mas por tantas incertezas passei, a angústia tornou-se uma personagem da minha vida. E com ela também o riso, a tristeza, a confusão. Dizem, não é fácil ser-se depressivo, digo, não o sou, antes bipolar, viajo por todos os mundos e por eles todos tenho de ter cautela porque a sociedade não está preparada para gente como eu, eu que levo uma vida perfeitamente normal, mas também sou impulsiva, agressiva, desconcertante para vós, as minhas árvores e os meus cães aceitam-me, vós não. Veio um vírus, ficaram confinados em casa, veio um terror, vós que não estão habituados a terem a mente travada. E neste mundo louco sinto-me sã, vós não. Vós que tinham as certezas perderam-se, eu tenho os meus fantasmas que vivem em todos os estados, eu tenho-me, eu existo, eu revivo todos os momentos. Mas condenam-me, os médicos, os outros. Agora em casa, quem o faz? Quem são os loucos? Eu não, eu respiro, eu falo com quem quero, árvores, ervas daninhas, cães e gatos e sou, respiro e vivo e digo a todos vós, não me aceitaram, quem é louco agora?

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