quarta-feira, 29 de abril de 2020







Dizem, o que queres ser na vida? Dizem, o que fizeste na vida? Dizem, como terminaste a tua vida? Dizem, dizem tanto e não percebem o que fiz ou desfiz, errei e segui, mas também admiti e conquistei, dizem-me, quem és tu? Apenas nevoeiro.
Na turbulência dos anos que passaram restam memórias fracas, tanto tempo perdido porque não tive possibilidades para o mudar, tanto tempo perdido para tanta gente e andamos todos como doidos a tentar sobreviver.
- Fica em casa!
- Lava as mãos!
- Tudo isso é o melhor para ti!
Pois, ninguém me diz como vou sobreviver, o que vou dizer ao meu senhorio que espera a renda e dinheiro não tenho, ninguém me diz como vou alimentar o meu filho que tem de ficar agarrado a um computador a fingir que tem aulas.
- Fique em casa!
- Lave as mãos!
Fique em casa e como irei arranjar dinheiro? Não, tenho de sair, preciso de um emprego mesmo que fique infetada porque se acontecer o estado paga e finalmente terei o que comer e talvez seja nova o suficiente para sobreviver e não me venham dizer o contrário porque o frigorífico está vazio e já não sei o que ao meu filho hei-de dizer.
Sim, é assim que tem de acontecer.

domingo, 26 de abril de 2020




Ando a segundos, segundos onde arranco ervas, segundos que vejo as plantas nascerem, segundos que vejo o tempo evoluir. Segundos que comunico com quem nunca vi, mas tenho uma relação duradoura, uma relação pela arte. Segundos que são segundos de prazer, de sentir, de meditar. Não, todos os segundos nos fazem viver e temos imensos segundos diários, segundos que nos explicam quem somos e segundos que nos dizem, não vás por aí. Mas vamos, atravessamos os caminhos proibidos e os segundos passam a dias de loucura, de esquecimento, a meses que não entendemos. Um dia acordamos e perguntamos, onde estão os nossos segundos? Talvez numa maré traiçoeira, talvez num caudal de um rio desconhecido e para lá chegares são precisos muitos minutos porque os segundos são preciosos. Sabiam disso?

sexta-feira, 17 de abril de 2020






Falo-vos do Outro Mundo, dum mundo onde estou separada da Teresa. Falo-vos de tristezas e alegrias, quando ela saía para trabalhar e eu ficava, quando ela regressava e eu pulava de alegria. Agora estão em casa, os vossos cães têm-vos, até os gatos que nunca gostei. Falo-vos de amor, um amor que segue para lá de todas as vidas porque um dia a Teresa regressará para ao pé de mim, de mim e de todos os cães que ela teve como o Tejo que vi morrer e sofri por isso, falo-vos que sois tão idiotas e não entendes o calor de um caminho, de uma árvore, de um apartamento apertado. Porque os amigos unem-se, os amigos são amigos e tudo o mais nunca interessou. Não sei o que procuram, na simplicidade têm tudo, mas por tudo quererem animais como eu apanham cancro e morrem rapidamente. Sois loucos, sois dementes porque escolhem arrancar flores da terra ou aprisionar um pássaro, querem tudo para vós como se fossem os donos de tudo. Não são e a natureza mil vezes vai-vos mostrar que estão errados.




Quando era miúda e ia ao trabalho da minha mãe ela obrigava-me a dar beijos a gente que nunca tinha visto, cremes e coisas tais, tudo repugnante, eu bem corria pelo corredor, mas a minha mãe obrigava-me a ir para trás e zás, lá vinham as beijocas. Finalmente posso dizer aos meus netos, quando e se os tiver, não, não os beijes, acena e sorri!

segunda-feira, 13 de abril de 2020


O que seremos depois disto?

O povo português tem se transformado, quer queiramos, quer não, onde havia hospitalidade passou a haver possibilidade de lucro. Todos queremos melhorar a nossa vida, não condeno ninguém, talvez a ganancia desmedida, nada mais. Agora que não se pode cumprimentar uma pessoa nem nos próximos tempos, agora que temos de desconfiar uns dos outros, agora que a tosse significa uma calamidade, agora que um aperto de mão é um mau augúrio, agora que os grandes grupos não sabem o que é solidariedade e só pretendem riqueza, no que se vai tornar o povo português?

O povo português vai voltar ao tempo da miséria, ao tempo do desemprego, dos pobres que ninguém poderá ajudar porque simplesmente ninguém terá coo o fazer. Muitos já lucram com isto, em todas as guerras assim o é. O que vamos aprender?

Não vamos aprender nada, vamos aprender a sobreviver apenas nos moldes da Europa Central que incluem fábricas, poluição, mas emprego e ordenado. Vamos aprender a viver com muito pouco porque temos contas a pagar, filhos a sustentar.

O que aprendemos para ajudar o ambiente? Aprendemos que o ser humano está a mais na cadeia da vida.

sexta-feira, 3 de abril de 2020







"- Frecha, toda a magia tem um preço, sabes disso. Tens a certeza que queres pagar esse preço?
As lágrimas escorreram-me pelos olhos e assenti.
Runa desapareceu por uns tempos, regressou com umas plantas que desconhecia e água, delas fez uma papa, dissolveu-as e obrigou o guerreiro a bebê-la.
- Ele vai ficar bom, Frecha – Disse Runa – Por maior amor que tenho por ti, e tenho, não poderei repetir o que hoje me pediste nem numa situação de emergência. Consegues compreender isso?"


O meu novro livro da série "Os castros", #3. Gratuito em 



Tenho todos os dados na mão e nenhum viciado, tenho o preto e branco e muitas recomendações. Tenho imensas alterações, tenho uma vida como a de tantos, tenho-me distante, tenho-me acompanhada, tanto e tão pouco para dizer, tanto a sentir, tanto a ser. Os dias correm velozes, atropelam-se, esmagam-se, enganam-me. Tenho paz, tenho intranquilidade, tenho tanto de tanto. E no remoinho da vida, aquela que espreita pela minha janela e me faz pensar nela, aquela que está lá fora na sua quietude esperando o desenvolvimento acontecer. Tenho pena de todas as árvores e de todos os animais que abrigam, não, vão de novo ficar em perigo porque somos uma praga que não será exterminada.

quinta-feira, 2 de abril de 2020


Ontem vi um horizonte, nele sonhei grifos, sonhei um Tejo que não finda, sonhei todas as cores, sonhei uma imensidão. Há na incerteza a angústia, mas por tantas incertezas passei, a angústia tornou-se uma personagem da minha vida. E com ela também o riso, a tristeza, a confusão. Dizem, não é fácil ser-se depressivo, digo, não o sou, antes bipolar, viajo por todos os mundos e por eles todos tenho de ter cautela porque a sociedade não está preparada para gente como eu, eu que levo uma vida perfeitamente normal, mas também sou impulsiva, agressiva, desconcertante para vós, as minhas árvores e os meus cães aceitam-me, vós não. Veio um vírus, ficaram confinados em casa, veio um terror, vós que não estão habituados a terem a mente travada. E neste mundo louco sinto-me sã, vós não. Vós que tinham as certezas perderam-se, eu tenho os meus fantasmas que vivem em todos os estados, eu tenho-me, eu existo, eu revivo todos os momentos. Mas condenam-me, os médicos, os outros. Agora em casa, quem o faz? Quem são os loucos? Eu não, eu respiro, eu falo com quem quero, árvores, ervas daninhas, cães e gatos e sou, respiro e vivo e digo a todos vós, não me aceitaram, quem é louco agora?






Abraço-te intensamente. A noite está no seu término, em breve serás apenas uma recordação.
Deito-me espreitando o teto. Talvez já tenha vivido muitas vidas diferentes e chegou a hora de vestir uma pele. Talvez continue desapegada.



Gratuito
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quarta-feira, 1 de abril de 2020


Ouve-se de longe os pássaros a cantar, a natureza a renascer, ouve-se um planeta a respirar porque estamos em casa e as fábricas findaram. No entanto, no meu egoísmo, não ouviram os meus.


(O meu mano infetado)




(a minha filha desesperada a pensar que lhe roubaram a vida)













Ouvi toda a gente, ouvi os aflitos, os sãos, ouvi os conformados. Mas também ouvi os meus, ouvi quem era para ouvir, eu que estou segura e não posso apoiar quem queria. Eu que estou aqui longe de tudo, longe da desgraça, longe da pandemia. Ouvi e queria ser, mas hoje não podemos ser, temos de ser amorfos, tábuas de indiferença, infiltrar-nos pela chuva, usar luvas, usar máscaras, desconfiar quem atrás de nós está, esperar que os nosso se curem e esperar que pelo menos  a natureza se regenere. Que aja algo positivo nisto porque não me importo de morrer sabendo que o planeta vai respirar de novo, vai reviver, vai renascer. E morrer de faltar de ar deve ser algo horrível e queria que o meu sacrifício não fosse em vão, mas não acredito na humanidade porque apenas está preocupada com a economia.

( o meu irmão está infectado e ao fim de 8 dias teve uma chamada de um médico, a minha filha tem 22 anos, preparava-se para a faculdade de Desporto, não entende como o seu futuro foi comprometido, andamos todos ao acaso, os mais jovens sentem-se traídos pela vida, os mais velhos não respeitam as normas, os do meio têm de trabalhar ou cuidar dos seus. E no fim disto tudo ninguém entende uma guerra contra um inimigo invisível. Irritamo-nos, somos humanos, somos gente e dizem, fiquem em casa, ficamos, mas também desesperamos)