sexta-feira, 29 de novembro de 2019


Chegar a casa e ter simpatia e acolhimento, não sabia que existia. “Tome, leve um caldo verde, gosta de paio? Tenho aqui umas azeitonas também e o horário do padeiro. Se precisar seja do que for contacte-nos, temos de ser uns para os outros”.
Em quase cinquenta anos de vida nunca tinha ouvido tais palavras nem tamanha hospitalidade, sim, a senhora vem conversar comigo, mas tenho paciência para a ouvir, sempre tive tempo para ouvir anciões, têm histórias maravilhosas de tempos idos. Têm uma certa solidão no olhar e o que é uma meia hora para mim? Ela desceu uma rua com uma canadiana para saber se a Teresinha estava bem, para poder ter um dedo de conversa. E dei-lhe, pouco mais posso dar a não ser o que faz falta, companhia. E o que é uma meia hora da minha vida a gente que pede tão pouco?



(peço desculpa a todos por não visitar as V. páginas, a minha vida parece um furacão)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019


Hoje voei pelo campo, apanhei bagas e descansei num tronco de uma árvore. Foi um voo afoito, procuram por mim os caçadores, os rapazes com as fisgas, os loucos. Tenho as madrugadas para ser livre enquanto os Homens dormem, enquanto a natureza respira. Não sei quando isto começou, perde-se a memória nas fugas, nos esconderijos, na sobrevivência. Amanhã recomeçará tudo de novo, a espera, a incerteza, o medo. Preciso de continuar para sobreviver, esconder-me, procurar, não sei quanto tempo aguentarei, estou só, estou escondida.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019




Os meus livros?
O primeiro “NAVIA”, a ingenuidade de um primeiro livro que não foi revisto pela editora e nem me apercebi.
“Recortes de um país moribundo”, um livro que adorei escrever, um pouco pesado, talvez.
“O Voo da ave”, um livro histórico na altura de Martinho de Dume, sec. VI, quatro anos de pesquisa. Tive opiniões muito contraditórias.
Depois vieram três de poesia, “A fadiga das ondas”, “Teixo-Mulher”, “Passos sem rasto”, à medida que se escreve a escrita evolui. “Passos sem rasto” foi um poema para um grande amor.
Fartei-me de editoras e comecei a publicar em ebooks, Ed. Autor, as editoras nada fazem pelos escritores. Agora sinto-me livre e saíram:
- “7 espadas acima”, textos poéticos, adorei escrever, criei um universo de deuses, os “7 espadas acima” e eu e a minha cadela vivemos as páginas
- “diz-me tu, o que é o amor?”, o que é o amor? Eu não sei, aqui escrevo diversas formas de amor.
- “O encantamento do vento” e “O cetro do Guardião”, da saga “Os Castros”, são dois livros de fantasia baseados em mitologia portuguesa e no tempo dos lusitanos. O terceiro há de sair brevemente.
O que é escrever? Para os outros não sei, para mim é vida!

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Ontem a minha cadela teve uma ninhada, ou talvez não tenha sido ontem porque os cachorros têm quatro meses e a mãe já não quer nada com eles. Eles que comam por aí, eles que vivam por aí porque chegaram à idade de se desenvencilharem e o tempo da maternidade acabou.
Ontem umas andorinhas tinham posto ovos num ninho e foi lindo ver as suas crias a rebentarem-nos e saírem, a pedirem comida e serem alimentadas bico no bico e a experimentar o seu primeiro voo até que a mãe as enxotou e seguiram o seu caminho. Pensando bem talvez não tenha sido ontem.
Ontem uma leoa teve filhotes, eram tão giros a brincarem até que um dos machos enfrentou o leão dominador e foi expulso da comunidade, não, não foi ontem.
Ontem tive filhos, eram uns bebés tão lindos, talvez não tenha sido ontem porque o primeiro foi embora cedo e o segundo a seguir, seguiram as suas vidas e nem os expulsei como as cadelas, pássaros, leoas o fazem.
Ontem a natureza chamou as crias que passaram a adultos de hoje, já nem sei porque confundem-se os dias e a liberdade chama os seus.
Hoje, tenho a certeza que foi hoje, os filhos foram, eu fui da minha mãe e ela da sua.


* Chamaram-me de Alien num outro texto por ter dito que os laços de sangue nada significam. E, para mim, laços de sangue não existem, existe natureza. Foi um exercício filosófico mal interpretado, mas não estamos aqui para servir os loucos?  A natureza chama, a natureza larga e todos somos natureza, estjam à vontade para contestar.

terça-feira, 5 de novembro de 2019





Perguntam-me, porque acreditas no invisível? Não tenho resposta a dar, talvez porque escrevo e nas entrelinhas os Deuses falam comigo, talvez no meu dia-a-dia fora do betão, fora da calçada portuguesa onde todos caminham de cabeça baixa sem verem o sol ou a chuva, antes num aparelho qualquer eletrónico formulam a vida.

Vivo como todos os outros, cumpro como todos os outros, calcorreio como todos os outros e por vezes a minha cabeça ainda baixa estará porque não é fácil viver, contudo procuro, procuro sem nunca esquecer que não é aqui que quero estar, não é assim que quero viver e liberto as minhas dúvidas em estranhas linhas que não serão lidas e tão pouco me importa porque a minha liberdade está na minha escrita, aceite ou não, são apenas pedaços meus compreendidos entre mim e mim.

domingo, 3 de novembro de 2019





Vejo gente, muita gente, que enterra, espezinha e nem percebe. Vejo um vento diferente que me mostra outros lugares que não são decifráveis para quem não os vê. Vejo caminhos perdidos que não foram tomados porque não os viram e eles estavam lá. Vejo tanto de tanto, vejo gente e com essa gente vêm árvores, abrigo e carinho. Vejo cascatas por descobrir e tantos segredos por descobrir. E essa gente tem regras diferentes como eu, sentimos árvores, a chuva, uma ruína, um fruto numa árvore. E sei-me que com essa gente quero estar.




Eram unidos e desunidos ao mesmo tempo, eram jovens e não questionavam a sua vida, viviam como podiam na agressividade, no abandono, no esquecimento. Eram tão novos, foram divididos, mutilados, delimitados até terem tido coragem para romper a bolha onde viviam. Uns primeiros, depois os restantes, os últimos pela força da vida. Eram tão jovens e nem todos questionavam porque era aquela a vida. Alguém questionou e saiu do círculo vicioso, viu outros horizontes sem viajar, viu vida simples, finalmente achara o sossego, tudo o que procurava. Uma face numa nuvem.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019



[Dali]

Prendem-me neste pedaço de terra quando tudo é uma explosão na minha cabeça, não para, não acaba, continua sem nexo sem a consiga travar. Prendem-me de mão atadas enquanto procuro refúgio e a cabeça gira sem se fixar, a loucura invade e não a consigo frear. Somente os passos indefinidos estão soltos e sem saberem para onde se dirigir mas continuam numa luta insana até travarem, travarem a cabeça, soltarem as mão e recordar o corpo onde está. Desespero pela sobrevivência, pelo término da desordem, pelo fim da derrota que me gira a cabeça, ata as mãos e fazem que os passos não saibam para onde vão e no fim caio estafada no chão desejando um outro dia que chegará esperando que toda a insanidade se vá.