sexta-feira, 28 de agosto de 2020

 Fala-me

de todos os segredos
que se esconderam de mim,
a magia de uma árvore,
a tagarelice de uma pedra,
de uma erva que se sente diferente.
Fala-me dos tempos idos,
quando saltava de pedra em pedra num riacho.
Fala-me de todas as vezes que conquistei uma árvore.
Fala-me para que recorde,
fala-me de todos os meus sonhos
para saber que não esqueci nenhum.
Mas fala-me.
Teresa Durães

terça-feira, 25 de agosto de 2020

 Ontem apanhei figos como outrora o fazia na quinta dos meus avós, trepava os troncos, comia um ou dois e guardava o resto. Mas esse era o tempo em que as feridas saravam depressa e a pressa não existia, apenas trepava as árvores para comer.

Agora estou num corpo que dizem ser o meu, olho-me no espelho no fim do dia e vejo olhos cansados, cansados por ter lutado contra o vento durante o dia.


Teresa Durães

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

sei que estás aí
tão perto que quase te toco
tão longe que não te ouço
tão perto e longe
tão diferente

e enquanto o sol brinca connosco
a nossa existência brilha

Teresa Durães

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 
[Dali]

Foi numa noite ou num dia qualquer que me julgaste sem tão pouco teres visto o meu jardim, resolveste empurrar a tua raiva das insónias para que as lê-se e fosse mais uma vez a emoção encapotada. Nem esperaste que o sol tivesse dado o seu ciclo, apenas pisaste as flores por terem as cores que têm. Não, não percebi e agora só espero as chuvas de estrelas.


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Esta historia tem uns 20 anos, não mais, não menos. Era uma vez um condutor de um TIR cujo camião avariou e ali teve de ficar até vir o mecânico que apareceu pouco depois. Mas havia uma peça para trocar por isso foi a S. buscá-la. A história não teria interesse nenhum se uma árvore não tivesse começado a conversar com ele, coisas simples, coisas do dia a dia, coisas que os patrões exploram. Mas nada desta história tem de político porque a árvore nem sabia o que era isso, contou-lhe sobre os pássaros nos seus ninhos, como tinham voado enquanto o condutor fez o mesmo falando sobre os seus. Até que este teve fome, foi buscar uma sandes de presunto e uma míni. Sentou-se ao lado dela e foi falando, foi dizendo da sua vida enquanto a árvore falava sobre a sua existência.
E nada disto teria interesse se a árvore não o passasse a conhecê-lo e ele a ela.

Teresa Durães

sábado, 15 de agosto de 2020

 Atravessa, anda, caminha devagar

Corre, para, continua, trava. Aperta.
Solta os cabos e desliza pelo caminho
sem garras ou falhas que façam tropeçar,
sempre a avançar e não parar, não olhar,
o ritmo sobe, não penses, prossegue
como se todos os gestos fossem a força do momento.
Para lá desse estado está o que esperas,
que cada pedaço lançado seja o final alcançável

Por isso atravessa, anda,
caminha, corre, para, continua,
estende a mão e agarra.



Teresa Durães

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

De repente os poetas deixaram de falar de amor, o amor existe com ou sem máscara, com ou sem vida, vive o amor de todos os tempos, de todas as épocas e por isso julgam-me louca e louca sou e declarei até ao fim dos dias, o amor não tem época, tem intensidade.

Sei de um povo que me despreza,

Sei de que os Deuses estão comigo

E enquanto se gladiam eu vivo,

Vivo sufocada

Vivo no ser que sou,

No vento, nas árvores, nas plantas

Porque nada sou.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Diz-me tu,
Onde para a vida?
Diz-me sem preconceitos,
Onde a morte liberta?

Diz-me, diz-me tudo o possível
Cansar todos os dias
Cansar as palavras tão gastas
Diz-me tu, onde está a poesia?

Diz-me apenas
Onde está a paisagem de outrora?
Diz-me apenas,
Porque as rãs não vão para o rio?

E penso, penso, penso
Não sei onde está outrora
Não sei onde termina o dia,
Numa lua cheia?
Diz-me apenas,
Sigo a luz e depois
o que faço quando termina?

Faltam-me correias para prender o tempo,
Falta-me a força para o vencer
Falta-me a coragem parar o prender.

E do tempo que me domina
Eu tento criar, viver,
Envelhecendo cada dia.

E um dia serei pó,
Pó deitado numa raiz de árvore
E regressarei à vida





domingo, 2 de agosto de 2020

Sei de um mundo onde podemos estar e ser, rir com prazer, sei de um mundo onde receber é um texto poético e nesse mundo quero viver.