Sentavas-te ao meu lado
escurecendo as sombras das nossas mãos
no silêncio de todas as palavras.
Nada mais para além
da clareira da eternidade.
Gestos lentos; há precisão
na harmonia do movimento concreto
tão antigo quanto os carvalhos.
Sabia-te pela noite fora,
hora dos mistérios insondáveis
não proferidos para não serem perdidos.
Um dia negaram-me esse meu sono
trazido de longas histórias antigas
restando-me erva seca em terra batida.
Das mãos preenchidas
restaram mortalhas alheias,
perdi-me em bosques de pedra,
construí musgo em areia
e deitei-me, esperando, a derradeira.
Mas não desististe,
infiltraste frestas em muros cerrados,
compuseste formas em copas de arvoredo,
foste longe no teu intento,
foste tu, imagem do meu pensamento.
in "Passos sem rasto", Teresa Durães