sábado, 19 de outubro de 2019






Enquanto sonhamos, enquanto sentimos o tronco de um carvalho, enquanto visualizamos um voo de um grifo eu liberto as minhas asas e vou ao seu encontro. Não sei se me querem encontrar, o meu odor a predador é tão intenso, de tão forte que é escondem-se os animais das florestas, as árvores encolhem-se. “Não!”, suplico, “Não, quero ser um deles, mas a eles pertenço.” Prendo-me a pedras, sinto o seu pulsar e sei que terei paz, a paz de mais de mil anos pois elas foram testemunhas da nossa vivência, da minha. Sussurro-lhes, salvem-me e deixem--me voar, sei que também destruo, não sei viver de outro modo, nada disso quero, por favor ajudem-me.”
As pedras na sua língua tão antiga que se perderam nos séculos, aqueceram-me, “deixa-te estar, repousa em cima de mim como os pássaros o fazem, como os habitantes dos bosques o fazem. Anda, descansa, talvez haja solução, não para ti nem para os teus, faremos de nós uma lembrança do que tudo aconteceu e quando o planeta se irritar nós permaneceremos. Talvez voltes como um pássaro depois de todo o acontecimento, pousarás aqui e dir-te-ei, és sempre bem-vinda.

1 comentário:

  1. "Talvez voltes como um pássaro depois de todo o acontecimento, pousarás aqui e dir-te-ei, és sempre bem-vinda. "
    Talvez…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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