sexta-feira, 27 de setembro de 2019


Hoje vejo pó, vejo cinzas, vejo os Homens na loucura pelo poder. Vejo terra destruída, água consumida em vão, árvores queimadas ou derrubadas, vejo violação. Vejo tanto de tanto que os meus olhos se consomem e a mente foge. Vejo e não quero ver, correm as televisões atrás de mim, refugio-me nos prados quase inexistentes onde o carvão tenta invadir este espaço.

Procuro carvalhos, grifos e águias, lobos ibéricos que quase já não os há, procuro montanhas que ainda não foram destruídas e vejo-me sem caminhos, vejo-me só e cansada.
As vozes que ouço não passam de murmúrios e sento-me no chão esgotada falando com as pedras. Dizem-me, a hora chegará, a tua também.


quinta-feira, 26 de setembro de 2019




Queria uma árvore, árvore não me deram, queria ver um prado, um prado não vi. Queria tanto da natureza, mas esta foge do mundo, foge de nós como um cão abandonado e maltratado.

Queria sol e chuva e veio chuva e sol. Não era o que deveria ter acontecido, mas foi o que me deram.

Queria paz e paz roubaram-me. Queria tempo e esse escapa porque as árvores fugiram, os prados desapareceram, o sol e a chuva não se entendem e fico aflita a olhar pela janela a tentar ver pássaros que com as árvores se foram.

sábado, 21 de setembro de 2019





Hoje vi chuva a cair e as árvores ficaram viçosas. Vi água a escorrer e os rios engrossaram. Vi vida e vida me deram. Hoje podia ter sido o dia de ontem não fosse a chuva lembrar-me que a natureza tanto oferece. Hoje vi uma esperança de amanhã. O que quero para além das minhas ervas, para além das minhas árvores, para além dos pássaros, da vida? Sem vida o que somos? Eu não serei ninguém, não pela morte física, antes pelo desespero de não ter conseguido falar-vos dos montes e vales.

terça-feira, 17 de setembro de 2019





Posei em ramos, viajei pelo meio de rios, construí ninhos e procriei. Levantaram voam e viajei pelas montanhas, vi grifos à distância, águias reais a caçar e fugi delas, apenas procurava a morada que queria para mim no meio de tanto arvoredo. Outros pássaros cantaram para mim, outras árvores ofereçam-me abrigo e por elas voei, cantei melodiosamente e segui caminho. Não sabia para onde ia, onde estava o bosque secreto onde iria pousar, onde o mágico tocaria as minhas penas, onde o impossível tornar-se-ia a minha vida e voei, voei, voei porque sabia que conseguiria.
Uma alma nova foi à procura de uma mais velha, nela nada descobriu, apenas raiva, consumismo, egoísmo. A alma nova que só queria conversar e não conseguiu, saiu e foi ver o mar, viu montes e descobriu árvores que antes nunca tinha visto. Deitou-se no meio das ervas e respirou fundo, a indiferença do mundo era tão terna que nada mais precisava dele.
Hoje o horizonte adormeceu e desapareceu do céu. Acordei estremunhada à sua procura e apenas encontrei árvores aborrecidas pois o sol não aparecia. Gritei uma, duas, três vezes, de nada serviu, sobrou-me uma bruma onde nada se destingia. Voltei a gritar, mas a voz perdeu-se no vazio como se não tivesse mais nenhum lado para ir. Recolhi-lhe, não era dia para mim.