domingo, 9 de junho de 2019


[Chagall]

Numa manhã fresca igual a tantas outras, um dia de primavera de sol ténue e gente calma, enquanto um barco de vela enfunada cortava o rio uma mulher sentou-se na amurada, rosto distraído, mãos no colo pousadas. Não sabia se se sentia desamparada ou a falta da presença dele. Os movimentos do corpo foram cortados quando falou de outra. Talvez soubesse quando as mãos deixaram de ser ansiosas e os olhos tornaram-se vagos, mas tinham jurado amor numa juventude fugidia.
Fora um acaso, dissera-lhe, e acreditara, notara nas mãos, no rosto tão bem conhecido e que já não era seu. Continuava a amá-lo por isso dizia-lhe adeus junto ao rio, uma despedida silenciosa, a sós, porque a sós ficaria.

5 comentários:

  1. Mais um texto com a solidão como tema. Mas muito belo.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  2. toda a solidão concentrada num pequeno texto
    muito bem descrita

    beijo

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  3. Quando a solidão nos torna leves e nos faz voar, sonhando um abraço como no quadro de Chagall.
    Lindo, Teresa

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  4. Uma despedida sofrida, numa solidão silenciosa.
    Magnífico texto, gostei imenso.
    Teresa, continuação de boa semana.
    Beijo.

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  5. Há encontros em desapego
    em que a presença se torna
    insuportavelmente ausência Insuperavelmente o movimento
    do rio rumoroso entorna
    as águas as mágoas vêm depois

    Bj.

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