quarta-feira, 22 de maio de 2019


[Dali]

Entrou num bar e pediu três shots, alinhou-os crescentemente, fez vibrar a escala e bebeu um a um de um trago só. Com um gancho do cabelo, abriu a porta dum volvo, entrou na auto-estrada para o Algarve e eufórica pisou com violência no acelerador. Nem parou, as árvores apareciam e desapareciam vertiginosamente, ligou o rádio, cantarolou em voz alta e abandonou-o numa praia de Lagos
 Já não dormia há dois dias quando conheceu um pintor. Pousou para ele, beijou, amou e deixou-o. Entrou num bar e dançou tango pela noite fora, a chuva furiosa inundava a terra ensopada, o vento batia com violência nas janelas, noite negra, o frio esvaziando os corpos.
Estendeu-se na cama sorrindo enquanto os trovões calavam as vozes humanas, os relâmpagos destruíam o absurdo dos passos maldados, a natureza devastava os restos de uma civilização mal construída. O dia iria amanhecer calmo, os pássaros voltariam a cantar, as ervas invadiriam tudo e ela poderia, finalmente, dançar sobre os escombros e soltar o grito há muito tempo guardado.

5 comentários:

  1. para grandes males, grandes remédios...
    gostei do texto

    abraço

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  2. De quando em vez
    o único caminho
    é o das pedras
    preciosas como o seu texto

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  3. Magnífico texto.
    Teresa, um bom resto de semana.
    Beijo.

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  4. Teresa,
    Uma narrativa emocionante.
    Adorei.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  5. o grito
    que acho todos nós (ou quase) queremos emitir...
    gostei muito do texto
    beijinhos
    :)

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