quarta-feira, 1 de abril de 2020













Ouvi toda a gente, ouvi os aflitos, os sãos, ouvi os conformados. Mas também ouvi os meus, ouvi quem era para ouvir, eu que estou segura e não posso apoiar quem queria. Eu que estou aqui longe de tudo, longe da desgraça, longe da pandemia. Ouvi e queria ser, mas hoje não podemos ser, temos de ser amorfos, tábuas de indiferença, infiltrar-nos pela chuva, usar luvas, usar máscaras, desconfiar quem atrás de nós está, esperar que os nosso se curem e esperar que pelo menos  a natureza se regenere. Que aja algo positivo nisto porque não me importo de morrer sabendo que o planeta vai respirar de novo, vai reviver, vai renascer. E morrer de faltar de ar deve ser algo horrível e queria que o meu sacrifício não fosse em vão, mas não acredito na humanidade porque apenas está preocupada com a economia.

( o meu irmão está infectado e ao fim de 8 dias teve uma chamada de um médico, a minha filha tem 22 anos, preparava-se para a faculdade de Desporto, não entende como o seu futuro foi comprometido, andamos todos ao acaso, os mais jovens sentem-se traídos pela vida, os mais velhos não respeitam as normas, os do meio têm de trabalhar ou cuidar dos seus. E no fim disto tudo ninguém entende uma guerra contra um inimigo invisível. Irritamo-nos, somos humanos, somos gente e dizem, fiquem em casa, ficamos, mas também desesperamos)

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