segunda-feira, 29 de abril de 2019


Ontem choveu. Apesar das grossas pingas que molharam a terra libertando o aroma a fresco, não me transtornou. Choveu e reavivou as cores esmorecidas pelo pó que tragava o ar. Talvez já sentisse a sua falta; é sempre bom vê-la cair através da janela abafando o ruído com o seu manto. Enquanto a lareira ardia espalhando um suave calor à minha volta, enquanto pousava a mão no vidro frio, olhei pensativa lá para fora. Há algo de misterioso nas nuvens carregadas, no céu cinzento que esconde o sol. Tenho sempre memórias que recordo, os dias de infância onde me sentia presa por não poder brincar lá fora, o regresso a casa sentindo o desconforto da roupa húmida. A areia da praia e o voo das gaivotas; as pegadas apagadas. Choveu e o presente foi dissolvido na água que se infiltrou nas fendas do muro.

6 comentários:

  1. Um belíssimo texto de uma poética vivida! Tanta infância que renasce quando sinto o cheiro a terra molhada!
    A chuva sabe bem...

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  2. Bom dia Teresa,
    As vezes chove fora
    Outras chove dentro
    E vamos seguindo assim...
    Linda publicação.
    Bjins
    CatiahAlc.

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  3. absolutamente rendido à beleza do texto
    especialmente, a última frase é deslumbrante

    abraço

    (grato pelas amigas palavras no meu blog
    espero que tudo se resolva melhor no seu impedimento)





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  4. Em criança, a chuva era mesmo uma prisão.
    Um magnífico texto, gostei imenso.
    Teresa um bom fim de semana.
    Beijo.

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  5. Sempre gostei da chuva, mesmo que ela levassea tragédia ao lugar onde vivíamos.
    Mas que eu gostava, gostava sim.

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  6. Gosto desta forma de escrever em prosa poética.
    Um beijo.

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