"O fantástico não está fora do real, mas no sítio do real que de tão visível não se vê.", Vergílio Ferreira
domingo, 13 de outubro de 2019
O verão estendeu a mão ao outono e este entrou calmamente sabendo que era a sua hora. Estranharam os transeuntes, os ausentes, os indiferentes. Estranharam todos que não olham para o céu onde o sol se encontra, onde se vê a lua ou a copa das árvores. Os pássaros, esses, já tinham feito a sua migração e ninguém reparou nisso. O Homem com a primeira chuva consultou o calendário, verificou os dados e pensou, sim, é outono, mas não espreitou pela janela nem olhou o horizonte. As raras árvores das cidades murmuraram entre si não compreendendo porque nem todos os animais estão sintonizados, porque andam desesperados e se vingam nos restantes, os outros, os esquecidos, os indefesos, os desprotegidos. Por isso calaram-se e secaram as suas raízes e deixaram o Homem, o único animal sobrevivente, viver a sua vida contente.
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