quinta-feira, 23 de março de 2017

Chove mas chove tanto que as minhas raízes apodrecem. O mar podia florir e cantar a canção de toda a sua orquestra. As folhas das árvores perenes deixariam as gotículas de água escorregarem umas para outras. Mas chove e não quero saber disso. Nem das cataratas de água, tão pouco do caudal do rio, das ausência dos miúdos do bairro. Chove violentamente e eu desejo quietude.

terça-feira, 21 de março de 2017

Solto-me angustiada,
Também extase nunca acabado
Em formas disconexas
Mas num corpo inalterado.

Queria, para além disso,
Um universo repleto de imagens
Onde o sono se confunde
Com as palavras não ditas
De vergonha de serem guardadas.

Queria um sol anunciador
Estamos em primavera, em flor,
Em experiência de odor.
Uma crença na vida
Um vaso com flôr.

Não passei de ilusão
Sobram os tempos de exaustão
Neste rasgo, neste salto
Sou poeta de versos inacabados
Esperando o regresso inalterado.

Espero ser voz
Dum fado cantado
Esperando as guitarras
Esperando mulher
Nunca terminada.

Poderei ser melodia
Um tiro mal atirado
Mas ergue-se a voz
Pois não me calo.



segunda-feira, 20 de março de 2017

Hoje parti-te em mil bocados
não que tenhas notado,
para que deixasse de ouvir
esses pedaços mal acabados.

Vi-te? Senti-te?
Que importa o mal passado,
o tempo destronado,
o lugar desocupado.

Não fui poque não era,
houvessem linhas
para te falar no passado,
no tempo das cotovias
no tempo acabado.

Tens dor, dizes
sofre o poeta,
esconde-se o romancista,
encolhe a voz
para quem faz sinfonia.

Vivi meio mundo,
outro terá de esperar.
Vi-te? Senti-te?
Não para explorar.


Dispo a minha sombra,
é sempre incómodo ver-me
com a escuridão a esconder-me os olhos.

É sempre desgatante
sermos os mesmos.

É alarmante necessitarmos da sombra

domingo, 19 de março de 2017

Somos um fruto inacabado,
ausência de luz po explorar
onde universos se dividem
e não há nada para escutar.

Sombras apenas?

No olhar, no sonhar.
Poetas perdidos
sem nada a declamar.

Poetas sobreviventes,
almas desconsoladas
ao som de uma guitarra.

Perdidos na sombra da copa,
mar que se agita em tevolta.

Poetas perdidos
em terreno desconhecido.

sábado, 18 de março de 2017

Corto em rasgos
a brisa que anteriormente se instalou
sem história, sem passado
tão pouco o persistente presente.

Corto em brasas ardentes,
desde outrora aos descendentes,
em pó ou dormentes,
em cacos ou empernes.

Corto memórias e desagrados,
futuros temerosos ou decadentes.

Corto da copa ou raiz
onde está o medo adjacente.